terça-feira, 16 de janeiro de 2018

D. Manuel Clemente abre Visita Pastoral em Torres Vedras convidando os cristãos da vigararia a viver “em função dos outros”

“A Nova Evangelização”. A expressão foi utilizada pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa para retomar o que foi o slogan da visita pastoral, de há 25 anos, no tempo do Cardeal D. António Ribeiro. Os dados estatísticos visualizados são “números típicos e desafios concretos” de uma situação de nova evangelização, que é “sempre nova e permanente, enquanto novidade do Evangelho”, declarou D. Manuel Clemente, ao iniciar a Visita Pastoral à Vigararia de Torres Vedras, realizada no passado domingo, 14 de janeiro, no Centro Pastoral de Torres Vedras, com o tema ‘Palavra e Missão’.

“É preciso que sejamos suficientemente criativos, para que, com um novo ardor, com novos métodos e com novas expressões repormos o Evangelho de sempre”, revelou.

No primeiro diálogo com o clero, conselhos pastorais e comissões das igrejas das 20 paróquias desta vigararia, o Patriarca de Lisboa manifestou que atualmente quer na vigararia de Torres Vedras, quer nas restantes, da zona e periferia de Lisboa, ao mesmo tempo, e às vezes na mesma rua e no mesmo  prédio, ainda se encontra uma ação pastoral de nova evangelização. “Encontramos pessoas que não sabem nada do Evangelho, não porque as famílias esqueceram, mas porque nunca aprenderam”, garantiu, explicando que muitos fiéis vão à igreja, de vez em quando, ou até uma vez por mês, praticando à sua maneira, seja na festa da terra, como no 13 de maio em Fátima, mas sem estarem inseridos na vida pastoral.

O responsável, também Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, considera que este cenário “encaixa num quadro geral” semelhante ao da população do país, das 20 dioceses, e do próprio Patriarcado de Lisboa, que em caminhada sinodal, insiste “na Palavra de Deus como lugar onde nasce a fé”. Segundo D. Manuel Clemente, ao longo destes três últimos anos, na Diocese de Lisboa, quer no aprofundamento do Evangelho, quer na liturgia, ou na ação sócio-caritativa, deve existir um crescimento em comunidade, capaz de estabelecer uma “rede de relações familiares”.

“Nós temos de aproveitar esta visita pastoral, no sentido sinodal, isto é, ativar conselhos pastorais, ativar conselhos económicos paroquiais, e ativar tudo aquilo que nos faça viver uns com os outros, porque, é exatamente nesta ativação que nós fazemos o caminho comum, que o sínodo significa na nossa Igreja de Lisboa”, sustentou.

Num tempo de perguntas e respostas com os leigos, abordando assuntos como o matrimónio, a vida consagrada, a catequese e os jovens, o bispo diocesano disse que para além dos crentes serem educados na comunidade cristã, a dar lugar ao “acolhimento, acompanhamento, discernimento e integração”, do próximo, com “disponibilidade”, é fundamental encarar a vida como uma missão a partir do Evangelho e “nunca partindo de si próprio e suas ideias”.

O torriense D. Manuel Clemente indicou que “a radicalidade da conversão cristã é o único futuro do cristianismo”, e que para isso, é “necessário fazer eco do que Jesus Cristo disse e fez”, exortando todos os crentes a “morrer” e “ressuscitar” para concretizar a “vocação batismal”.

“Quem pensa que se vai ordenar porque gosta muito de se ver no seu espelho imaginário, de um sacerdócio qualquer, com mais ou menos modas e capelos, esqueça, não dá para nada”, alertou o Patriarca de Lisboa, exortando o clero a deixar-se possuir por Cristo, “sacerdote e pastor”, e passar a viver definitivamente “em função dos outros”.

Segundo o responsável, o Papa Francisco tem insistido muito na apresentação do ‘Kerigma’, palavra grega que significa o primeiro anúncio, a Páscoa e a novidade de Cristo. Para D. Manuel Clemente quando não se começa do princípio, também não se chega a fim nenhum. “O problema de muitas das comunidades e famílias, inseridas nos respectivos grupos e movimentos, é nunca terem ouvido e entendido, que a vida cristã, não passa pela minha vida com umas tintas cristãs em cima”, apontou, frisando que uma religiosidade natural “com água benta em cima, fica tudo estragado”.

Com o tema dos divorciados a surgir ao diálogo, o Cardeal-Patriarca lembrou que até 1975 quem tinha casado catolicamente não podia recasar, portanto estava sempre apto para ser padrinho ou madrinha. Nessa altura havia sociedades sacralizadas, em que “o sagrado ficava ali mal metido”.

“Hoje vivemos numa sociedade diferente, as pessoas fazem os seus percursos e alternativas, no fundo somos muito tolerantes, sobretudo, para não nos preocuparmos com o bem ou mal dos outros, tudo isto vem ao de cima, porque existe fragilidade das convicções”, recordou.

D. Manuel Clemente lembrou ainda a importância do sínodo que os diocesanos de Lisboa se encontram a viver, com insistência neste ano, para depois aplicar incessantemente, inseridos na Palavra de Deus como lugar onde nasce a fé. “Nós não temos mais nada, nem para nós, nem para os outros enquanto cristãos, se não a vida de Jesus Cristo; o Evangelho, aquilo que Jesus propõe, e o seu modo de vida, devem-nos mover sempre num tempo de graça e conversão”, salientou.

Solicitado pelos paroquianos da Vigararia de Torres Vedras a apresentar algumas dicas práticas para manter ativa a dinâmica das estruturas, o Cardeal-Patriarca aconselhou o uso da Internet como ferramenta útil, para chamar e convidar mais pessoas para as celebrações, auxiliando as comunidades na criação de “redes”, proporcionando momentos de leitura bíblica, oportunidades de divulgação de atividades, fazendo as realidades crescer a partir de Deus. “Enquanto há anúncio, a Palavra de Deus começa a ganhar espaço na nossa imaginação e no nosso coração, enaltecendo o grande lugar da proclamação”, assegurou, acreditando que uma “catequese mais bíblica”, não no sentido dos crentes se tornarem numa “religião do livro”, mas na valorização do Evangelho, “cria vida e gosto”, como testemunhos já apresentados por grande parte da população.

“A semente é a Palavra de Deus e o semeador é Cristo, mas tem de ser lançada, e que seja a semente e não a nossa conversa”, alertou. O Patriarca de Lisboa disse que em muitos casos a semente surge em “terreno bom”, mas depois tem de ser “tratada e cultivada”. “Uma vez projetada à terra e mesmo que o semeador esteja a dormir, ela vai crescendo até aparecer e dar fruto”, recordou o responsável, consciente de que todos os diocesanos têm à sua disposição “uma serie de indicações práticas” para alimentar uma boa evangelização em sociedade, capazes de viver no “respeito mutuo”, dando “espaço à transmissão das convicções de cada um”.


João Polónia/Comércio & Notícias (texto e fotos)

(notícia João Polónia no Comércio & Notícias a 16 de janeiro de 2018)



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